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Pedir perdão não é humilhar-se e sim ser humilde

Um dos sentimentos mais lesivos que o ser humano carrega quando ele se instala é o remorso. Ele se aloja mesmo sem a nossa autorização de tal forma que, quando percebemos, já está instalado e nos remoendo por dentro. E por mais que tentemos desalojá-lo e até mesmo negá-lo, ele permanece lá, na nossa consciência, gritando em alto e bom som por todo o nosso ser nos dizendo quando erramos gravemente contra alguém. E nesse momento experimentamos, capitaneado por ele, o remorso, o conflito de dois sentimentos poderosos e antagônicos: o orgulho e o perdão. A propósito dessa contenda íntima para saber quem é o sentimento mais forte, Dado Moura no seu livro "Relações Sadias, Laços Duradouros" escreve com muita propriedade o conflito existencial protagonizado por esses dois sentimentos no nosso íntimo. Escreve ele: "do remorso ao perdão há uma pequena distância, mas o espaço é grande o bastante para residir o orgulho. Sentimento este que nos tentará convencer de que o ato de se desculpar, pedir perdão ou reconhecer o erro é atitude dos fracos". Meu Deus! Quanta verdade nisso. E não preciso dizer, pois sabemos todos que, invariavelmente, para não dizer na maioria das vezes, o sentimento vitorioso é o orgulho. É quase sempre ele que fala mais alto, apesar de o remorso gritar como um tenor desesperado que o certo é optar pelo perdão, pelo pedido de desculpas. Mas, alojado e espremido nesse pequeno espaço entre o remorso e o perdão escutamos mais fortemente a voz destruidora do orgulho fazendo com que nós, inadvertidamente, prolonguemos o ato de pedir desculpas por alguns momentos, às vezes por alguns dias, em outras ocasiões por anos, algumas vezes por toda a vida e, não raro, por muitas vidas.

Acho que não, mas se você convive com esse dilema na sua vida, não prolongue por muito tempo esse ato de reconhecer o erro e pedir perdão que é, ao contrário do senso comum, uma atitude dos fortes e não dos fracos. A existência terrena é muito curta e passa muito rápido para perdermos tempo com atitudes tóxicas nas nossas convivências. Pedir ou conceder perdão é uma das atitudes mais elevadas do ser humano. Não seja uma daquelas pessoas (tenho certeza de que você não é) que desperdiçam seu tempo tentando, em nome do orgulho, justificar suas ações menos felizes. Hoje eu, você e todos, estamos aqui, porém, daqui a algum tempo que não nos é permitido saber, felizmente, seremos apenas lembranças na memória dos que vão ficar, mas que irão depois, igualmente. Tenha em mente que a vida é sempre uma oportunidade para enriquecimento contínuo onde cada novo amanhecer é uma nova chance que temos de crescimento, aquisição de novos conhecimentos e conquistas. Somos todos espíritos imortais que estamos, momentaneamente, encarnados em um corpo físico exatamente para aprendermos a trabalhar em nós mesmos as nossas imperfeições, substituindo-as por sentimentos e atitudes mais nobres. Por isso, precisamos aproveitar todas as oportunidades que temos para crescer e para evoluir nos desfazendo, na medida do possível, das nossas fraquezas que emperram o nosso melhoramento moral. O tempo de que dispomos em uma existência não é eterno e amanhã pode ser muito tarde para tentarmos corrigir as faltas cometidas, além de que será muito triste quando voltarmos ao mundo espiritual (e todos voltaremos) e, perante os nossos mentores que confiaram em nós, sentir na consciência a dor e a vergonha de que mais uma oportunidade de crescimento foi perdida. Todas as manhãs, quando acordamos, descortina-se para nós um recomeço para a nossa aprendizagem e evolução. Agradeça a cada despertar e aproveite cada dia fazendo dele um aliado para, como um escultor de si próprio, aparar algumas arestas do seu espírito. Não se enclausure em sua dor lamentando-se e acreditando não ser merecedor de nada bom e nem que o mundo está contra você. Não deixe de lutar, de perseguir a ação de reparar o erro e pedir desculpas, pois só o desejo de reparar é que leva à reconciliação e, por via de consequência, à libertação do peso da consciência. Mas, não esqueça que a anulação do remorso e do sentimento de culpa nos sugere duas ações fundamentais e imprescindíveis: o cultivo da humildade e o pedido de perdão, pois que, ao contrário do que se pensa, pedir perdão não é humilhar-se e sim ser humilde

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